Tudo o que me dava estabilidade se foi. E estou, aos 47 anos, a viver uma situação de novata no local de trabalho (25 anos depois de me ter estreado como professora) e até de novata no sistema, que sofreu inúmeras alterações enquanto estive ausente, sentindo-me ainda bem pior do que se de uma novata eu me tratasse, pois de mim espera-se experiência, savoir faire, capacidade de gestão do trabalho, e a frescura e a descontração aliadas a tudo isso.
Há quatro anos, eu sentia-me perfeitamente integrada, tinha já muitas provas dadas e era respeitada como profissional competente; agora, sou uma colega que anda há três anos a tentar levar um ano letivo adiante, mas nunca faz mais do que um mês, após o que contribui para a instabilidade da escola, que tem de gerir o processo da sua substituição, com tudo aquilo que ele acarreta. Há quatro anos, era uma professora da casa; agora, sou uma espécie de aleijada, que precisava de alguma ajuda para levar a sua vida profissional em frente, mas, como não tem mau aspeto (tem apenas mais doze quilos do que antes!...), não é levada a sério na sua necessidade específica e acaba por não receber qualquer ajuda (trabalhar sempre na mesma sala seria importante...).
Não há nada na lei que proteja o regresso ao trabalho de um doente oncológico, mas há vários tipos de doenças oncológicas, como há vários tipos de cancro da mama, como cada caso é um caso e cada pessoa é um ser diferente dos seres que são as outras pessoas. E algo que existe, de facto, é uma coisa chamada "autonomia das escolas", a qual tem permitido situações vantajosas do arco da velha, para pessoas não necessitadas, mas a mim nunca permitiu nada... Ou, melhor, permitiu o meu arrastanço no tempo de baixa, vivido em casa, sofrendo de solidão e em permanente acumulação de sensações de falhanço e de despréstimo.
Eu sei que era boa profissional! Mas sei também que já não acredito nas pessoas e que isso me retira a vontade de primar pelo profissionalismo, sendo que tal esforço agrava ainda mais o meu mal estar físico!
Para ajudar à minha "festa", há ainda os nódulos que descobri em mim há cerca de duas semanas, um na mama nova e outro numa virilha, os quais estão ainda longe de ser esclarecidos...
6 comentários:
Pois eu até já acho que nem escola tenho. Há 18 anos efectiva lá; há 14 a estar lá diariamente, fui atirada para uma e agora para outra. O mail que o ministério me mandou para me apresentar onde agora estou dizia que o período de substituição terminaria a 7 de Outubro às 12:00 horas.
Também já fui respeitada como profissional e sentia-me competente. Agora sinto-me um trapo.
Beijo
Guida
não sei com começar tens razão nas tuas queixas,mas apenas te posso dizer,tenta acalmar,o que é dificil sei que olhares á tua volta, e veres todos os problemas que te rodeiam, há-de ser um sufoco, mas a tua familia precisa muito de ti e todos sofrem com esse teu sofrimento.Que te posso dizer mais? que desejo que melhores muito e depressa, quanto ao teu trabalho, é o retrato do país que temos ou o que fizeram dele: um beijinho e um abraço muito apertadinho
Queria Acácia Rubra,
"Um trapo" é uma expressão excelente para definir o que eu também me sinto! :(
Um beijo, amiga
Querida Lourdes,
Já reparaste que, se eu sofro e todos sofrem por eu sofrer, o melhor mesmo era acabar-se com o meu sofrimento?!... :(
Um beijo
Guida,
Sinto a mesma angustia... mas quero acreditar que somos tão importantes para os nossos filhos que temos que lutar...
A Guida é uma mulher maravilhosa e tê-la como mãe é uma benção.
Um abraço cheio de carinho.
Conceição
Conceição,
Tenho de dizer-lhe que gostaria imenso de a conhecer. Mas respeito, evidentemente, a sua vontade de assim mantermos as nossas "conversas", se for o caso.
Obrigada pela companhia que me faz.
Um abraço carinhoso
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