Dedico e dirijo este blogue a todos aqueles que tiverem passado (ou estiverem a passar) por histórias de cancros, quer como protagonistas, quer no papel de acompanhantes na luta contra a doença, mas espero por cá encontrar qualquer contributo que qualquer um considere válido.
A intenção principal é trocar experiências de forma direta e sincera, sem necessidade de qualquer apoio no escudo da força constante e do pensamento sempre positivo, que tantas vezes não estão presentes, mas parece haver uma imposição social para que assim seja...
Sejam bem-vindos! E divulguem este blogue!


Por aqui, discorre-se sobre:

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riscos marcantes

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No dia 11.1.11, este blogue passou a ser escrito à luz do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Quanto dura um pós-operatório?

Entrar para um bloco operatório com a finalidade de ser submetido a uma intervenção cirúrgica pode gerar as mais variadas reacções nos familiares e amigos do próprio. Há quem não arrede pé da porta do bloco (pais, filhos, tios, famílias inteiras...; há quem aguarde em casa de telefone e relógio debaixo de olho; há quem aguente sossegado que as notícias cheguem pelas vias normais...
Quanto aos doentes, há quem queira o seu mundo inteiro por ali, quem não queira por ali ninguém, quem faça uma ou poucas escolhas...
Entrar num bloco operatório para ser operado contempla sempre uma consulta de anestesia, um electrocardiograma e um raio x de tórax, mas não costuma contemplar, infelizmente, uma consulta de preferências pós-operatórias. Ninguém nos pergunta se queremos ou não visitas e quantas permitimos ao longo do horário a elas dedicado; como ninguém nos pergunta se queremos ou não a televisão ligada o dia inteiro; e nem interessa se esses factores nos fazem subir a tensão arterial, por exemplo.
O que vale (o que vale? não sei!) é que hoje em dia despacham-nos do hospital numa corrida e em dois dias parece aos "de fora" que está o pós-operatório feito. Na minha terceira vez desta história até com o bobi fui para casa (Rrrrr!). Depois, claro, tive de lá voltar daí a uns dias para me tirarem o dreno, que, porque já tinha criado aderência e porque mo tiraram comigo em pé, saiu aos puxões e fez-me ver as estrelas todas do sistema solar, pelo menos, e ficar dorida durante muitos meses.
Já agora, conto também as outras aventuras pós-operatórias. Da primeira vez, ao cabo de oito dias, o que parecia ser um seroma levou o médico a espetar-me uma agulha para me retirar o líquido remanescente, mas o resultado foi um furo no expansor, que até ao dia seguinte conseguiu verter boa quantidade do soro fisiológico que já lhe tinha sido injectado a cada três ou quatro dias. Resultado: operada de novo, ao nono dia do pós operatório (ainda nem comia com a mão direita...).
Na terceira operação, descobriu-se uma inflamação na mama no dia de tirar pensos e pontos, o que obtigou a mais duas caixas de antibiótico oral e duas bisnagas de antibiótico tópico, durante muitos dias... com (ar)dores, evidentemente.
É curioso o descanso de todos aqueles que ligam a saber se a operação correu bem, muitas vezes imediatamente a seguir a ela ter acontecido, e depois não voltam a "aparecer". O que seria a operação correr mal? Morrermos nela? É que, depois de quatro em dois anos e meio, já acho os pós-operatórios bem mais importantes do que as próprias operações. É neles que se sofre e que se sente solidão. Na operação estamos entregues a mãos competentes e estamos inconscientes.
No pós que ainda vivo tiraram-me os pontos tarde de mais e já não conseguiram puxar a linha intradérmica por baixo da mama esquerda. Puxaram tudo o que conseguiram (e eu voltei a ver estrelas), cortaram, e o resto ficou lá dentro. Passaram vinte e dois dias sobre a cirurgia e tenho hoje um empolamento em linha, exactamente na zona onde passa o sutiã, o qual não imagino como se resolverá sem uma anestesia, pois o fio que está lá dentro não é absorvível pelo organismo. E à volta do mamilo também ainda tenho pintinhas pretas que são restos de pontos e me picam... Vinte e dois dias passados e vivo ainda o pós-operatório de uma operação relativamente simplória, nos tempos que correm!
Agora... o que isto mói uma pessoa não vos passa pela cabeça! Dois anos e meio depois... dá lugar a revolta!

7 comentários:

Unknown disse...

Guida, ...queres que te conte as minhas 3 porque já passei?....algumas das coisas que falas são me familiares, na primeira (consulta de rotina ao ginecologista)-surprise! fiquei na eminência de não poder ter filhos (antes de ter o João Maria), a segunda foi a cesariana do João e a 3ª fui fazer uma simples ecografia porque me queixava de uns picos (conversa idiota, para o médico)surprise again!, afinal tinha uma pedreira dentro de mim...ao menos que fossem pedras preciosas, sempre tirava algum partido da coisa...mas nada, continuo pobre...amiga, muitos beijos e muita força, está quase a terminar esse período.

PS: Sabes que um dia destes no Terreiro do Paço, houve uma iniciativa, já não me recordo organizada por quem de um grito colectivo, achei imensa graça, não fui, tive pena, mas lembrei-me de ti.

Guida Palhota disse...

Olá, Alfa!
Ainda bem que não precisaste de pedras preciosas, porque nada mais precioso do que o teu João Maria. E vê se me perdoas os queixumes, please!

P.S. É bom lembrares-te de mim. Já andava a sentir a tua falta.

beijos grandes

Unknown disse...

Pela minha 4ª operação, e passados 4 meses, tenho uma bela queloide de 20 cm bem a meio das costas que ainda arde, repuxa, dá comichão, dói e não me deixa voltar ao ioga... vamos com calma, não é? :)
Com o bobi para casa??? bolas, anda tudo doido!!
Isto tudo mói sim, mas o pior já nós passámos!
Vamos lá a ter ânimo, mesmo sabendo que nem todos os nossos dias são cor de rosa...
Eu passo tranquilamente pelos pós-operatórios. Agora pela revisão do equipamento de 4 em 4 meses e por vezes o tempo que decorre pelo meio, isso já é outra história...
E prometo que passo pelo gmail e me alongo por lá! A minha expressão favorita é "um dia destes". Sou uma incorrigível procrastinadora!
Beijos solidários
Ana

Guida Palhota disse...

Ana:
Obrigada por apareceres. E se eu pudesse saber quem és e partilhar mais experiências contigo, tenho a certeza de que me faria bem.
Sabes que também já me tornei procrastinadora? Mas não estou a gostar. Na verdade queria corrigir-me.
Já cá tinhas estado, não tinhas. Se te apetecer, escreve-me para guidapalhota@gmail.com

um beijo
solidário também

Unknown disse...

Meninas, procrastinadora!!!!!...isso é demais para mim. Passei por aqui, para ver a tua resposta Guida e encontro uma conversa absolutamente cúmplice e com um código muito próprio, que me é desconhecido, vou ter que ir a correr ao dicionário....já volto, enquanto isso, por favor continuem à conversa, mas sugiro que bebam um copo de kerspe(verificação de palavra)...que eu já volto ok? bjs para as duas.

Guida Palhota disse...

Alfa!!!!!!!!!!!!!!!!
Obrigada pelo bom humor, rapariga!
Já vou beber o meu kerspe...

Até já!

Guida Palhota disse...

Ei, Alfa, não procrastines, ok? ;-)