Na sociedade em que vivemos, é imperioso passar uma imagem de eficiência, de desembaraço, desenvoltura, de excelência na gestão do quotidiano e de extrema habilidade para lidar com as (maiores) adversidades. É fundamental não esquecermos que, por muito mal que estejamos, há sempre quem esteja pior do que nós, e, portanto, há que arregaçar as mangas (ainda que, eventualmente, não tenhamos braços) e andar para a frente, pois para a frente é que é o caminho, não interessando para nada se nos está a sorrir um caminho lateral, por hipótese...
Vivemos num mundo de ideias feitas, de pensamento estandardizado. E eu sou uma outsider, que, como tal, nunca devia ter tido filhos, e, ainda para mais, quatro, e, ainda por cima, um cancro de mama com complicações de reconstrução.
Eu sou uma pessoa com necessidade de gritar tudo ao mundo. Desde pequenina que sou um ser excessivamente solitário e sem amor-próprio, sempre a olhar para os outros como superiores a mim. Mas eu sou melhor do que muita gente que por aí anda. Melhor em MUITAS vertentes. Apenas não me dá para gritar que sou boa pessoa, porque me apetece gritar o que me dói e ser boa pessoa não dói (bem, sei lá, se calhar, até dói...), e, por isso, acham que me devo calar, pois eu não sou uma coitadinha e tudo o que escrevo me apresenta como coitadinha!...
Ora bolas! Eu vou dizer agora: Coitadinhos são aqueles que precisam de camuflar a sua vida, como se a existência se tratasse de uma peça de teatro e todos nós estivéssemos apenas a representar um papel!
É que eu... sou péssima atriz! E depois é uma chatice. As pessoas vêm ver a minha peça e não gostam. É demasiado séria! E então não dizem nada. Calam-se bem caladinhas e sei lá eu o que pensarão (embora imagine) - tirando uma meia dúzia, que eu sei que pensa mal, muito mal.
Vão-me desculpar, mas eu vou arriscar continuar a ser eu, até ao fim, continuando a expor-me, a revelar a minha alma, quer cheia de amor, quer cheia de revolta, quer cheia de interrogações ou incompreensões. E, claro, poderei estar redondamente enganada, muitas vezes até. Seria agradável que mo fizessem ver com gentileza, argumentos, exemplos. Seria, mesmo, mas duvido, a julgar pelo que se tem passado até aqui.
Muitas vezes, eu precisava que me encostassem à parede, mas em muitas dessas vezes, há pessoas queridas que, na sua boa vontade, me deixam (apenas) beijinhos... Não pensem que eu não os sinto até ao tutano, porque sinto, mas vou confessar-vos uma coisa: penso muitas vezes que se eu fosse uma sem abrigo talvez tivesse amigos com quem CONVERSASSE a sério, que não me dissessem e a quem eu não dissesse, só porque se instituiu: "Vai tudo correr bem" e "Tu vais dar a volta por cima" ou ainda " Tu és uma grande mulher"..., independentemente do que se pensa na realidade.
Não, não vou deixar de ser eu. Nunca, jamais, em tempo algum. Nem saudável, nem doente. Nem morta, aliás, pois conto com a lealdade dos que me amam e ficarem, para não não deixarem que o meu corpo desça à terra e que sobre uma terra onde eu não estarei se amontoem as flores que as pessoas não me ofereceram em vida!
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