Dedico e dirijo este blogue a todos aqueles que tiverem passado (ou estiverem a passar) por histórias de cancros, quer como protagonistas, quer no papel de acompanhantes na luta contra a doença, mas espero por cá encontrar qualquer contributo que qualquer um considere válido.
A intenção principal é trocar experiências de forma direta e sincera, sem necessidade de qualquer apoio no escudo da força constante e do pensamento sempre positivo, que tantas vezes não estão presentes, mas parece haver uma imposição social para que assim seja...
Sejam bem-vindos! E divulguem este blogue!


Por aqui, discorre-se sobre:

... Acompanhamento Psicológico Ajudar quem Ajuda Alertas Alimentação Alopécia Antes e Depois Aquisições autoestima Brincadeira Cancro da Mama nos Homens Cansaço Chamar os bois pelos nomes Cirurgias Cirurgias de Amigas Codependência Coisificação nas Doenças Prolongadas Complicações Pós-operatórias Consultas Conviver Cumplicidade Dar / Receber a Notícia Desafios Desânimo Desejos Desespero Despedida Diagnóstico Dicas Dieta Distinções Efeitos Secundários de Medicação Emagrecer Encontros de Amigas Esclarecimento Esperança Estilo de Vida Estímulos Exteriores Exames Pré-operatórios Exemplos Famosos Com Cancro Feminilidade Filosofia de Vida Pós Doença Fisioterapia Fracassos Gang da Mama histerectomia Histórias de Luta Hormonoterapia Hospitalizações Humor Implicações Psicológicas Incongruências Informação Lingerie Correta Lingerie Pós-Operatória Medos Meios Complementares de Diagnóstico Meios de Diagnóstico Menopausa Depois do Cancro da Mama Modos de ser Mudanças na Vida Natal Nova Normalidade Novas Amizades Novidades O Cancro em Pormenores O Cancro Não é Só uma Doença; é um conjunto de doenças O Cancro Não é Só uma Doença; é um conjunto de doenças; efeitos secundários da medicação Ocupação em Tempo de Baixa Os cancros dos amigos e familiares Palavras Alheias a Propósito do Propósito Parabéns Partilhar a Doença Perdas Pós-cirurgia Pós-operatórios Prazer em encontrar quem nos entende Prazeres Prevenção Prevenção de Recidivas Processo de Recuperação Projetos de Sensibilização Quimioterapia Radioterapia Rastreio do Cancro da Mama Reações Alheias Reações Pessoais Reconstrução Mamária Regresso à normalidade Regresso ao Trabalho Sentimentos negativos Sexualidade Sinais Sintomas Solidão Tamoxifeno Terapias Toque Tram Flap Tratamentos Verdade Verdadinha Vitórias Vontade de ter poder sobre a doença

riscos marcantes

riscos marcantes

NOTE BEM

No dia 11.1.11, este blogue passou a ser escrito à luz do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Mulher

Homenagem a Todas as Mulheres









(Adorei o gesto e a subtileza, Mário! - pela parte que me toca e pela que se estende às minhas congéneres)

terça-feira, 30 de março de 2010

domingo, 28 de março de 2010

Dúvida

Não sei se me ausente
Se aqui me acrescente

Ver a Vida de Outro Modo

Claro que hoje vejo a vida de outro modo.
Há pouco mais de dois anos, eu era muito mãe, muito professora, muito dona de casa, muito esposa; hoje, eu sou muito eu, com tudo o que isso tem de melhor e de pior relativamente à minha verdade de tantos anos, que sinto ter ficado irremediavelmente perdida.
Quando fiquei doente, interiorizei (talvez para minha defesa) que a doença tinha chegado para que eu me tornasse numa pessoa melhor. Dois anos volvidos, eu sou melhor e sou pior, sendo a mesma, mas sendo outra.
Não dou mais valor à vida, por ter tido um cancro. Dou menos! A vida é boa quando estamos bem. E estamo-lo sempre intermitentemente, mesmo quando não temos doença nenhuma declarada. Quando temos, passa-se o mesmo.
É claro que se amanhã, pela manhã, vocês passarem no quiosque e comprarem uma revista de colunáveis, o mais certo é encontrarem N beldades assoladas por maleitas em respostas cem por cento positivas relativamente ao que se aprende e se melhora em termos existenciais, após uma doença que se vence. Mas eu nem sequer sei o que é isso de vencer uma doença. Até porque já eu estava doente e sentia-me óptima e agora, que estou boa(!), sinto-me um ser que tem uma dor física (e psicológica) como companhia inseparável para o resto da vida.
Claro que hoje vejo a vida de outro modo. Apenas no sentido em que 'agora' é o tempo que eu tenho para viver. Portanto, mais vale vivê-lo com o mínimo de esforço e o máximo de prazer, numa relação equilibrada entre as duas realidades.
Tentando não prejudicar ninguém (até porque tenho cinco eleitos sem culpa), eu não faço planos para o futuro. O que for será. Porque a vida continua sempre, eu só já tenciono vivê-la em cada novo dia em que acordo.
Nunca me senti tão sozinha desde que fiquei de baixa. Vejo, de facto, a vida de outra maneira: vejo a correria em que eu também sempre andei e em que não quero voltar a andar. Vejo o stresse de todos e o desprazer obtido naquilo que fazem para sobreviver. Vejo que ninguém tem tempo para oferecer. Por isso, as pessoas até vão gostando de trabalhar, mesmo que estupidificantemente - pois quem trabalha vai-se relacionando, ainda que apenas num nível de superfície.
Claro que hoje vejo a vida de outro modo. Neste momento, é como se a visse através de um vidro ou como se ela fosse o filme a que eu estou a assistir. E não gosto do que vejo, apesar de amar a Natureza e de ter saudades da praia e do campo.
Também tenho saudades das pessoas, mas essas eu sei que já morreram. Só me restam o mar e as árvores, mas eu ainda nem consigo entregar-me a eles. E, como o que vivo é o presente, não sei se voltarei a sentir o prazer que eles já me proporcionaram.
Desculpem o desabafo, mas convém que a verdade seja inteira, que é o mesmo que dizer 'isto do cancro é uma coisa como outra qualquer e a felicidade não tem nada a ver com o assunto'! Sou tão feliz quanto antes. Globalmente feliz, o que quer dizer 'com intermitências de felicidade'.

sexta-feira, 26 de março de 2010

A Nova Lingerie das Mastectomizadas com Reconstrução




















Imediatamente após uma mastectomia realizada em simultâneo com uma cirurgia reconstrutiva (ou com o início da reconstrução), é necessário usar um sutiã especial, de alças largas e quase até ao pescoço, para evitar que a prótese se desloque, subindo e obrigando a paciente a uma nova cirurgia. Compra-se em lojas especializadas (uma delas está referida na barra lateral deste blogue) e há de tudo, desde os que parece que eram das nossas avós até aos que se assemelham a tops de desporto. É-se atendida de forma personalizada e cuidadosa e escolhe-se em função da estética e do conforto. Convém ter, pelo menos, dois, mas não os comprar no mesmo dia, no sentido de haver algum tempo para se saber se será preferível um diferente ou se outro igual será a melhor opção.
Se for Verão, as cavas e as alcinhas ficam condicionadas; se for Inverno, é de prever que, no Verão seguinte, esse tipo de indumentária possa voltar a ser usada.
É de toda a conveniência que, se houver intenção de que o sutiã seja comparticipado pelo serviço de saúde, se obtenha uma requisição do médico. Caso contrário, nada feito. E trata-se de peças caras.
Para a prevenção da subida da prótese, é ainda usada uma faixa (também comparticipada) durante uma ou duas semanas, a qual se aperta, com velcro, por cima do sutiã. Os sutiãs especiais usam-se durante vários meses, que podem ser poucos ou muitos, dependendo dos casos.
O tipo de sutiã a usar e o tempo durante o qual ele precisa de ser o eleito deve ir sendo conversado com o cirurgião, e, assim que se tornar possível escolher um sutiã (sem aros) numa loja normal, é de toda a conveniência ir com calma para uma primeira compra, pois o tamanho e a copa dos novos sutiãs podem ser completamente diferentes dos antigos. Convém, portanto, estar-se preparado para uma renovação total da gaveta dos sutiãs. O que, convenhamos, poderá ser um incentivo ao investimento em lingerie bonita, arrebatadora... (uma prenda, depois do abalo).



Por esta altura, atenção ao conforto e ao material de qualquer peça adquirida, pois é conveniente aliar a beleza ao bem-estar, pois sem bem-estar nada vai parecer belo.
Há, contudo, sutiãs de alças finas muito confortáveis. O tamanho da lingerie pode, portanto, ser reduzido substancialmente, se isso for o que mais agradar.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Who Will Comfort Me?



Só porque os santos da casa (que são bem melhores do que santos, convenhamos!) não fazem milagres, ou seja, são um todo que não é tudo!

Lei das Compensações



Quando taaaaaaanta coisa resolve, em cadeia, manifestar-se contra os nossos desejos, há que descobrir aquilo que de algum modo possa compensar-nos.

Pela parte que me toca, a escolha foi (sem ferir, abusar ou prejudicar ninguém): fazer só aquilo que me apetece ou o mais perto possível dessa realidade...

É que... acreditando que a vida é só uma (não sei de ninguém que tenha comprovado o contrário!), convenci-me de que há sacrifícios perfeitamente inúteis, especialmente se não vierem beneficiar ninguém!

Se me vierem com a história de que deveria fazer A e não B (quando o que me apetece é mesmo fazer B), só para que os outros não pensem não sei o quê de mim... o melhor é rir-me (se não para fora, pelo menos para dentro!) e fazer B, quiça até a dobrar!!!

Interessa-me estar bem com a minha consciência, de acordo com os princípios em que acredito, não prejudicar ninguém, ajudar sempre que possa... Mas quero lá saber do que os outros pensam a meu respeito só por eu levar a vida à minha maneira, sem "papar grupos"!!!

Aprendi isto à custa da doença que me atingiu no inacreditável ano de 2008.

Uma pessoa que ascende (ascende?!) à categoria de doente oncológico, passa pelas fases todas e mais algumas (mais algumas mesmo), no que respeita a exames, operações, tratamentos e estadas prolongadas fora e longe de casa, não havia de ter direito a alguma compensação?! Era o que faltava! Era só sofrimento, não?!

Para quem me leia, é bom que fique claro que não abunda em mim um espírito de santidade e que acho que se alguém (Quem?!) resolveu lançar-nos às feras da vida TERRENA então não deve estar à espera que não aproveitemos o que de bom existe na vida TERRENA!!! Se fosse o caso, mandassem-nos logo para os anjinhos e ficava tudo resolvido - como alguém (Quem?!) resolveu fazer com o meu irmão, sem sequer me dar tempo de o conhecer! Agora sinto-me um pouco mais próximo dele...

terça-feira, 23 de março de 2010

Laço Lança Curso de Formação em Cancro da Mama

















"O programa vai arrancar em Abril e conta com a participação de 32 voluntários na área da saúde.
Um grupo de formadores em Cancro da Mama vai levar diversos ensinamentos úteis às escolas, centros de saúde e empresas de todo o país, no âmbito do Programa Educativo Laços na Comunidade, já a partir de Abril.
Para preparar estes profissionais, a Laço promoveu um primeiro curso, denominado Formar Laços, que contou com a participação de diversos profissionais de saúde, especialistas nesta área.
Segundo Rita Dagnino, coordenadora do Programa “Laços na Comunidade”, "através deste curso, pretendemos dotar os formandos de ferramentas que os ajudem a alertar e educar a população para esta doença. Assim, durante o curso foram apresentados temas tão vastos como o síndrome hereditário de cancro da mama, o tratamento e diagnóstico nos Centros de Excelência ou a importância do rastreio precoce”.
Adelaide de Sousa, também uma das participantes neste primeiro curso, enfatizou o seu papel enquanto figura pública.
A apresentadora aproveitou este momento para falar da sua experiência junto de mulheres que já passaram por esta doença, mencionando que “quem passa por esta experiência passa a viver a vida com outros olhos e a dar importância a tudo o que realmente é importante para estas mulheres”."

in Sapo - Portugal Online!, a 23 de Março de 2010

segunda-feira, 22 de março de 2010

sexta-feira, 19 de março de 2010

O Cancro Alimenta-se de Açúcar


O metabolismo dos tumores malignos depende muito do consumo de glucose (a glucose é a forma do açúcar digerido no organismo).

Sempre que ingerimos alimentos confeccionados com açúcar ou farinha refinada (alimentos com alto "índice glicémico"), o nosso organismo liberta imediatamente uma dose de insulina para permitir a entrada da glucose nas células. E a acompanhar a segregação de insulina aparece uma molécula denominada IGF cuja função é estimular o desenvolvimento das células.

Ou seja, o açúcar e as farinhas brancas alimentam os tecidos e fazem-nos crescer mais depressa.

E há ainda, na insulina e na IGF, outro efeito comum: estimulam os processos inflamatórios, os quais estão também na base do desenvolvimento das células e são verdadeiros fertilizantes para os tumores.

Por isto, será de equacionar a hipótese de seguir um novo regime alimentar, isento de açúcar processado e de farinhas refinadas (e também de arroz branco).

Para quem não conseguir passar sem o açúcar, aconselham-se extractos de açúcares naturais, como o néctar de agave, a glicínia, o chocolate preto.

Para substituir as farinhas refinadas, deverão ser escolhidas farinhas que misturem cereais integrais.

E em vez do arroz branco, opte-se por arroz integral ou por arroz basmati.

Já agora, batatas também em pouca quantidade. Venham legumes e leguminosas - muitas ervilhas, feijões e lentilhas, por exemplo, de muito baixo valor glicémico e com fitoquímicos altamente poderosos para combater o desenvolvimento das células malignas.

FONTE: Anticancro, de David Servan-Schreiber

quarta-feira, 17 de março de 2010

Pagar para Conversar

A vasta equipa de médicos do IPO de Lisboa, que há mais de dois anos me segue, nunca conversou comigo. Cada um deles, em cada uma das vezes em que está comigo, apenas se limita a "ver-me" e a informar-me, em níveis absolutamente mínimos, daquilo que eu devo ter conhecimento, como exames, análises, consultas, operações. Respondem também a algumas questões colocadas por mim, mas evitando sempre que as respostas facilmente gerem outras perguntas, acautelando, assim, a garantia de que daí não surja "conversa".
Dois anos passados, alguns meses depois de declarada a depressão, pago para conversar. Porque posso. Mas nem toda a gente pode!
Só os psicólogos conversam. E em consultório. Nem os psiquiatras desempenham esse papel de forma apaziguadora. Chega sempre o momento em que querem resumir e embalar os nossos problemas, para escolherem o fármaco que lhes parece ir melhor com a cara que apresentámos.
Estou, portanto, satisfeita com a minha psicóloga, não deixando de ter uma pena imensa que ela tenha entrado tão tarde no meu processo, pois acredito que me teria salvo da depressão, caso eu tivesse sido indicada para acompanhamento psicológico desde o início do cancro.
E como os médicos, funcionam os amigos, seres igualmente sem tempo para conversas, especialmente no que concerne ao assunto 'doença'.
Só ao tempo da quimioterapia é que eu tive um aspecto baço e macilento, mas, mesmo nessa altura, toda a alma que me via me achava com óptimo aspecto, incluindo o facto de estar careca, que tão bem me ficava na minha cabeça redondinha. E por aí mesmo ficávamos. Como continuamos a ficar. São muito poucas as pessoas com quem falo abertamente daquilo que me apetece partilhar. E agora até já decidi que não volto a dizer "Está a doer-me.", pois não quero massacrar ninguém com queixumes, nem quero que duvidem de mim, uma vez que com tão bom aspecto (!) só posso estar óptima.
Converso com a "minha S.", todas as semanas, durante hora e meia, e às vezes faço hipnoterapia. E a minha dor vai tomando novos contornos.

terça-feira, 16 de março de 2010

Olhem, chamaram-me!

O Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro convidou-me a estar hoje, pelas 11 horas, no Centro de Saúde a que pertenço, para usufruir do Programa Nacional de Rastreio de Cancro da Mama, efectuando uma mamografia.

E eu... lá fui e lá me dispus a esperar mais de meia hora, na rua, ao lado da caravana, só para que as meninas registassem no sistema que, para mim, já chegaram tarde, pois, para além de não me terem efectuado o convite durante os 365 dias em que eu tive 45 anos (a faixa abrangida é dos 45 aos 69), começando a idade "rastreável" tão tarde, a mim nunca chegariam a tempo para acudir, pois o meu diagnóstico foi feito quando eu ainda tinha 43.

Pedi para registarem a minha sugestão de um rastreio mais alargado, em termos de intervalo etário, e foi-me dito que esse é um assunto em discussão, nomeadamente a passagem da idade mais baixa para os 40 anos, mas que há muitos médicos radicalmente contra a utilização da mamografia, como meio complementar de diagnóstico, numa idade tão precoce, pois a própria radiação emitida por este exame é cancerígena.

Vi-me obrigada a concordar com a utilização doseada do método invasivo da mamografia, mas, não querendo deixar de revelar aquilo por que passei, pedi para registarem, também como minha opinião, que o Estado já gastou bastante mais dinheiro comigo, depois de eu ter adoecido (o que acontece com a maioria das mulheres que não recorrem à medicina privada), do que alguma vez gastaria se me tivesse chamado para ressonâncias magnéticas (meio não invasivo e que detecta as células cancerosas no seu estado inicial) suficientemente periódicas para prevenir o cancro.

E mais não disse, sabendo que nada daquilo que proferi terá qualquer eco. Saí. E outra senhora entrou para o rastreio, que espero nada lhe detecte.

Mas aqui posso voltar a referir o fraco interesse em prevenir de um Estado que é controlado pelos lobbies das farmacêuticas e dos médicos!

Se as pessoas deixarem de adoecer, que farão os médicos? E as farmacêuticas? Deixam de ser necessários, não é?

Lembrem-se lá: já algum médico vos falou a sério sobre meios de prevenção do cancro? Não, pois não!? Mas a alguns, infelizmente, já falou a sério sobre tentativas para o curar!!!

No curar é que está o ganho. A prevenção não dá dinheiro a ninguém. Que a população adoeça e morra não é problema. Todos somos substituíveis e o sofrimento até se alivia com venenos...

P.S. Em todo o caso, aconselho a quem de direito que compareça ao chamamento para a mamografia...

segunda-feira, 15 de março de 2010

domingo, 14 de março de 2010

O Sexo e a Mastectomia

Como expressão máxima da união entre dois seres que se amam, o acto sexual envolve um grau de cumplicidade que vai aumentando ou diminuindo, na directa proporção da evolução da relação integral do casal.

O cancro da mama não escolhe estádios de relacionamento entre casais para surgir, o que pode provocar reacções muito distintas em ambos os envolvidos na relação.

O primeiro embate traz apenas à ideia a necessidade de lutar pela sobrevivência (ainda que possamos não consciencializar a hipótese da morte). Nada mais importa, nos primeiros tempos, do que afastar o inimigo que surgiu para atacar em força.

Casos há, contudo, em que não é possível sentir, nem por um bocadinho, que esse inimigo está afastado. Desses casos, o conhecimento que tenho não é fruto de experiência própria, pelo que prefiro não os abordar num espaço em que aquilo que escrevo tem por base as minhas vivências.

Sentir que a nossa vida já não está em risco é mais do que meio caminho andado para acreditarmos que a vida vai continuar como era antes. E isso é força! Mas, na verdade, como era antes a vida não voltará a ser, sendo até várias as condicionantes a essa possibilidade.

Quer física, quer psicologicamente, o nosso ser ficará magoado para sempre, depois de uma experiência de cancro. Mas as mágoas podem ser em menor ou maior número e mais fáceis ou mais difíceis de suportar, assim o mundo que nos rodeia nos seja próximo ou distante, e se cruze connosco ou simplesmente caminhe em paralelo...

Numa relação de partilha de experiências, quer as individuais, quer as comuns, em jeito de aprofundamento, vai-se tornando cada vez mais sólido o inicial terreno movediço, até um ponto em que, se vier a tempestade, cada um, até mesmo se não for possível falar, desempenha na perfeição o seu papel, que não lhe parece outra coisa senão um pormenor intrínseco ao amor que une os dois seres.

Nos casos de mastectomia, há o cancro (e seus respectivos tratamentos) e a mutilação (com várias consequências possíveis) para encarar, lidar, resolver. E tudo é, em simultâneo, físico e psicológico.

Não esquecendo que cada caso é um caso, sei que é comum a quimioterapia provocar secura vaginal, a radioterapia potenciar o cansaço e a hormonoterapia agravar a perda de autoestima, que naturalmente acontece pela falta da mama natural (mesmo que haja reconstrução), mas, desta vez, pelo que se engorda. E a perda da autoestima consegue encaminhar-nos para um processo de depressão, com necessidade de antidepressivos e ansiolíticos que se metem directamente com a nossa líbido, tornando-a preguiçosa.

Temos, portanto, pela frente, um sério, mas muito interessante e enriquecedor trabalho a dois (espero que em muitos casos), no sentido de contrariar todos os factores que pensam que vêm para se intrometer na vida sexual do casal!

E é, sobretudo, um trabalho de criatividade, em que, entre sucessos e insucessos, se vai inovando e, com isso, apreciando a capacidade de invenção e reinvenção do prazer.

Em jeito de brincadeira, apetece-me dizer que um cancro da mama pode possibilitar uma deliciosa reciclagem sexual...

sexta-feira, 12 de março de 2010

Novidades da Cirurgia Plástica

À conta de um "simplório" cancro da mama, já estou na calha para a quarta intervenção cirúrgica, pela segunda vez num simultâneo às minhas duas inquilinas, que nem sequer renda me pagam...
A "bola de stress" vai receber os "acessórios" e a mama propriamente dita vai, mais uma vez, à redução (já disse ao dr. que não quero parecer sair ao meu pai!), com o intuito do equilíbrio entre os dois elementos e do melhor resultado possível em termos estéticos.
Uma vez que a pele da mama direita é pele irradiada, torna-se difícil o sucesso da tatuagem da aréola, pelo que a mesma será conseguida com um retalho da mana esquerda, da barriga ou de outra zona mais ou menos escondida do corpo. Deste modo, a tatuagem será feita em pele nova e o resultado é praticamente garantido.
E tudo isto se passará dentro de dois a três meses, pretendendo ser o passo final de um processo que, por essa altura, terá começado cerca de dois anos e meio antes.

terça-feira, 9 de março de 2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

Atrapalhação no Balneário / Banalidade no Consultório

Ainda não chegou o dia em que me sentisse à vontade para me despir no balneário do Forlife, onde pratico hidroginástica, ao pé das minhas colegas da turma. Só porque uma das minhas mamas não tem (ainda) aréola nem mamilo e elas não sabem disso. Equipo-me (e desequipo-me) sempre numa pequena cabine, onde a indumentária de Inverno se transforma numa trouxa de família numerosa e a atrapalhação reina, especialmente por ser necessário evitar o chão molhado ao vestir algo que entre pelos pés.
Isto para dizer que a diferença da minha nudez de hoje relativamente à de ontem causa-me uma intolerância psicológica, que se traduz num incómodo físico e também num incómodo social.
O incómodo social prende-se com o facto de, assim sendo, eu ficar privada da cavaqueira natural do despe e veste, antes e depois da aula, o que me vai mantendo socialmente à parte da malta, diminuindo as minhas hipóteses de troca de venturas ou desventuras.
Cá em casa, dizem-me para me deixar "de coisas", pois quem não viu ainda, vê agora e isso pode até ser o início de relações enriquecedoras, mas eu, que até sei que, se as mamas não tivessem aréolas e mamilos, a minha estaria perfeita, ainda não me dou bem com a falta dos "acessórios" que a hão-de voltar a embelezar um dia. E, portanto, prefiro não mostrar a quem não precisa de ver.
Já com os médicos se passa o inverso. De tão vista que já fui, sempre que tenho de me mostrar a um médico, faço-o como se lhe mostrasse as mãos, sem sequer me vir à ideia que é uma zona íntima de mim que estou a expor.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Consultas Super, Hiper, Ultra, Mega Rápidas

As consultas a que eu vou no IPO acontecem a 300 quilómetros da minha casa. Tal como quaisquer análises e tratamentos relacionados com a doença que me fez entrar naquele hospital.
Durante os primeiros tempos, fruto da atrapalhação de sofrer de uma doença a necessitar de uma intervenção urgente e da inexperiência nessa matéria, cheguei várias vezes a percorrer os 300 quilómetros do regresso de lágrima no olho, por, em apenas três ou quatro minutos de consulta (sem exagero de caricatura), eu não me ter lembrado de tudo aquilo que queria perguntar. Porque sempre entendi uma consulta médica como um encontro entre médico e doente, em que se conversa sobre a doença e o doente em causa.
O IPO é um lugar diferente de todos aqueles que eu já conhecera. Uma manhã naquele hospital (quem me dera que me tivesse calhado apenas uma!) é experiência suficiente para se ficar com a ideia de que, afinal, toda a gente está doente, e, também, para se ser assolado por imensas dúvidas quanto à capacidade de ali se dar vazão aos problemas de tantas pessoas.
Mas dá-se vazão - num circuito bem montado, em que o doente entra, de um lado, numa linha de montagem de alta performance, e sai, do outro, com o problema resolvido, sem ter havido (necessidade de) um conjunto de três palavras a acompanharem o processo (ou o doente...).
Qual automóvel com os pneus carecas, desde que as jantes ainda não tenham sido afectadas, a vasta equipa de recauchutagem trata de todos os pormenores e manda dali para fora em menos de um ápice qualquer enfermo que pense que lá vai para a conversa!
Para tudo, no IPO, serve a expressão: "É atar e pôr ao fumeiro."
Aprendi a defender-me das lágrimas do regresso indo preenchendo, com questões, um caderninho que abro sempre que me apresento na vistoria dos três minutos. E a vistoria começou a ser alargada! Mas pouco, que eles estão mesmo treinados para nos despacharem... Porque eles são aqueles que precisam de nos salvar!

quinta-feira, 4 de março de 2010

Mais Vale Um Pássaro na Mão...

Venha de lá a notícia do cancro, mas não venha a de metástases!
Um cancro pode agarrar-se com uma mão e apertar-se ferozmente até se destruir sem piedade; as metástases são segundos, terceiros... cancros, formados em outras partes do corpo, a partir da circulação "livre" (como pássaros que voam) das células malignas, através das cadeias linfáticas ou da corrente sanguínea.
Descobertas ao mesmo tempo que o carcinoma de base ou numa fase pouco ou muito posterior, metástases são sinais claros da capacidade de reprodução das células malignas no nosso organismo e tendem a desanimar bastante mais do que a notícia do cancro, que pode, eventualmente, ser descoberto numa fase em que a cura total seja o corolário de um tempo de luta.
Eu não tinha metástases quando alguém ficou com o meu cancro na mão. Apesar de 'invasivo', ele ainda não tinha atingido a cadeia linfática do braço. Assim continue.

Não! Mas é sim... Ok. Faça-se! Mas porquê? Que mal fiz? Já sei. São milhões! Ok. Não sou ninguém. Mais um aparelho para arranjar...

quarta-feira, 3 de março de 2010

Quem Não Experimenta Não Conhece!

Fui ao Google Imagens e ao YouTube e procurei imagens paradas e imagens em movimento de resultados de mastectomias sem e com reconstrução. E fiquei verdadeiramente impressionada, pensando: Credo! Se alguém da minha "roda" faz exactamente esta busca, vai pensar que eu estou num destes estados deploráveis, que impelem o afastamento do olhar. E eu que queria colocar aqui um exemplo...
O meu marido ainda me disse: "Eu fotofrafo-te. Ninguém precisa de saber que és tu e ficam a conhecer um exemplo esteticamente perfeito [embora ainda sem mamilo nem aréola]".
Não quis. Mas fiquei indignada, porque a busca foi longa e não vi nada de suficiente, sequer, o que, para quem não sabe, torna difícil acreditar que os resultados de uma cirurgia de reconstrução mamária, pós-mastectomia, podem ser esteticamente espectaculares.