Por vezes, interrogo-me sobre o determinismo da doença relativamente às mudanças nas convicções de um ser humano. Ou seja, agora, que me sinto num processo de metamorfose, não sei se ele foi condicionado pelo facto de estar a lidar com um cancro, se haverá outra ou outras razões, desconhecidas por mim mas apuráveis, ou se eu mudaria da mesma forma se a minha vida tivesse continuado o seu rumo normal já de tantos anos.
A verdade é que ainda não adquiri o distanciamento temporal e relacional suficiente para conseguir analisar friamente esta questão, e, por isso, ela está a fazer-me sofrer, por saber que já não sou quem fui e por desconhecer para onde me encaminho.
Na minha mente de 46 anos, com tempo de vida suficiente para ter as escolhas importantes feitas, enfiou-se agora o mundo inteiro, a vida toda, e eu só ainda percebi que me agradam certas revelações recentes e me desagradam algumas aquisições antigas. Sinto-me uma cobra a mudar de pele... Num processo doloroso, que ainda não estou a entender bem e que ainda não consegui debater com ninguém.
Não me reconhecendo, não sei lidar comigo e vou afectando negativamente os que me rodeiam, sem que alguns se apercebam disso, sem que outros se importem muito com a questão, e sem que, ainda outros, se refiram a tal, apesar de eu perceber que o notam.
Nada a apontar ao comportamento da maioria? Essa é uma outra questão importante. A maioria que me conhece desde há muito não deveria abanar-me, interrogar-me, conversar, formular opinião sobre o que se passa comigo? É que a falta dessa "maioria" tem-me abalado substancialmente, ao ponto de já estarem em causa valores cujas raízes já me sustentariam uma vida muito longa...
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