As "meninas" com cancro da mama devem mostrar-se sempre muito valentes e ganhadoras. São todas umas heroínas. Eu também, o que é que pensam?! As pessoas olham para mim como se eu fosse especial. Mas eu nem corri. Nem dá, portanto, para ser 'especial de corrida'.
Que valentonas que nós somos! Aguentámos e aguentamos (e o acento gráfico faz a diferença!!!) aquilo que tivemos e que temos de aguentar e mais nada. Queriam o quê? Que nos deixássemos morrer, negando os tratamentos?! O que tem de ser tem muita força e toda a gente aguenta, sem ninguém ser herói ou heroína. É-se, apenas, sofredor à força (porque ninguém gosta de sofrer!), mas não se é diferente dos outros para melhor nem para pior.
Não gosto que me elogiem, nem que elogiem as outras, porque, em abono da verdade, lutámos e lutamos (e o acento gráfico faz a diferença!!!) só porque tem de ser!
Mostrar o desânimo, a raiva, o cansaço, as saudades dos dias em que o corpo era inteiro, livre, solto, leve... é mau porquê? Porque assim desanimamos os outros?! Ah! Que chatice, não é!? Pois eu aos outros digo a verdade de mim. E agora, apesar de ninguém ter culpa, eu estou com raiva.
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6 comentários:
Por aqui a passear-me, porque me apeteceu…e porque não faz ainda três horas, que pela terceira vez fui lanceolado no meu M.M. (Melanoma Maligno), de estimação que não me larga por nada deste mundo…mas podes crer que quem o vai devorar sou eu…não me chame Vítor…Estou irritado, mas o “crocodilo”que se cuide, que é uma chatice quando me irrito, mesmo com muitas dores…daí, muita força para todos nós, mesmo irritados!
Beijos
Sabes, Vitor, eu tenho a sensação de que, para termos as forças de que realmente necessitamos, precisamos mesmo de ser genuínos, e a genuinidade inclui a irritação!
Claro que vamos ganhar isto tudo, mas eu sei que muitos dos que não sabem só toleram em nós momentos de optimismo, sem lhes interessar se ele é fabricado, para manter aparências, ou se é sincero.
E o que eu quero é poder mostrar-me triste, quando estou triste, e contente, quando estou contente, sem que a revelação dos momentos baixos sirva logo como termo de comparação para me apontarem aquelas pessoas que por tanto passam e estão sempre optimistas. Porque eu também sei mostrar-me sem dor e sem pessimismo - apesar de por dentro ir o inverso!!! Mas não quero. Eu quero ser genuína!
Obrigada por teres falado de ti. É bom partilhar.
E "o 'crocodilo' que se cuide!
"eu tenho a sensação de que, para termos as forças de que realmente necessitamos, precisamos mesmo de ser genuínos, e a genuinidade inclui a irritação!"
Subscrevo e, se me permite, Continue!
S.,
Como disse o Ruy Belo,
"Nos dias de hoje ou nos tempos antigos
não preciso de menos que todos os meus amigos".
Preciso de si.
O problema é deixar sair a raiva, quando nos encontramos.
Parece que estamos de tal maneira formatados para a contermos, que tenho a sensação de que, a maior parte das vezes, nem percebemos que há revolta em nós, e as palavras não sabem dizê-la porque nem têm bem consciência dela.
Obrigada por me apoiar
um beijo
Das coisas mais desanuviadas, sensatas, racionais e esclarecidas que eu já li, e neste caso é para dizer que tem muito valor, porque vem de quem o sentiu na pele.
De facto é surpreendente aquilo que nós conseguimos aguentar em tempos de adversidade. E qual o real mérito disso ?
E se alguém não consegue, é sinal de fraqueza ? Os genes que nos calham fomos nós que escolhemos ?
Quantas escolhas podemos nós na realidade fazer ? Está mesmo TUDO, com letra mesmo grande, ao nosso alcance ? Claro que não, se não não havia lugar ao progresso, à evolução, caso já estivesse tudo inventado e descoberto.
Pegando no teu último comentário,
acabei de ver há poucos minutos uma série cómica em que o cenário é o de uma reunião de entreajuda. E as pessoas que vão à reunião sentem muita dificuladade para expressar os seus sentimentos. Um deles a custo lá diz que cada vez que veste a camisola que tem naquele momento vestida, tem comichão. O outro, já meio a chorar diz que de vez em quando tem calor e o outro diz que noutro dia ouviu um música e isso o pôs bem disposto.
É uma belíssima descrição da ironia do que temos por essencial. Para nós aquilo é normalíssimo, nada difícil, embora por vezes nem nos assalte a profundidade que gestos banais possam ter (mas isso daria outro parágrafo), mas talvez porque é o socialmente aceite e nos seja transmitido com normalidade no seio social. Coisas mais importantes, mais profundas, que requerem alguma introspecção e autoanálise de coisas que não nos deixam confortáveis à primeira, e aos outros talvez nunca deixem confortáveis mesmo, essas ficam para os psicólogos e psiquiatras analisarem, mediante o nosso generoso pagamento.
Já era altura de algumas noções que foram entretanto estudadas nos fossem ensinadas nas escolas.
Cada vez percebo mais que na escola não nos dão as ferramentas necessárias para podermos ser verdadeiramente arejados na vida, só nos dão o pé de cabra para o desenrasque.
Guida, vais me desculpar mas somos Guerreiras!
Passar pelo que passámos não é facil e sabes. Tem muita gente que desiste de fazer tratamentos e desistem de viver, tal é a tristeza que assumirem que têm cancro. Eu cheguei muitas vezes a falar com pessoas que se sentiam assim e fiz-lhes ver que se aqui estão é porque têm uma missão a cumprir que ainda não era a chegada da hora delas e que se lembrassem daquelas(os) que lutaram e o bicho levou a melhor :o(((
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