As consultas a que eu vou no IPO acontecem a 300 quilómetros da minha casa. Tal como quaisquer análises e tratamentos relacionados com a doença que me fez entrar naquele hospital.
Durante os primeiros tempos, fruto da atrapalhação de sofrer de uma doença a necessitar de uma intervenção urgente e da inexperiência nessa matéria, cheguei várias vezes a percorrer os 300 quilómetros do regresso de lágrima no olho, por, em apenas três ou quatro minutos de consulta (sem exagero de caricatura), eu não me ter lembrado de tudo aquilo que queria perguntar. Porque sempre entendi uma consulta médica como um encontro entre médico e doente, em que se conversa sobre a doença e o doente em causa.
O IPO é um lugar diferente de todos aqueles que eu já conhecera. Uma manhã naquele hospital (quem me dera que me tivesse calhado apenas uma!) é experiência suficiente para se ficar com a ideia de que, afinal, toda a gente está doente, e, também, para se ser assolado por imensas dúvidas quanto à capacidade de ali se dar vazão aos problemas de tantas pessoas.
Mas dá-se vazão - num circuito bem montado, em que o doente entra, de um lado, numa linha de montagem de alta performance, e sai, do outro, com o problema resolvido, sem ter havido (necessidade de) um conjunto de três palavras a acompanharem o processo (ou o doente...).
Qual automóvel com os pneus carecas, desde que as jantes ainda não tenham sido afectadas, a vasta equipa de recauchutagem trata de todos os pormenores e manda dali para fora em menos de um ápice qualquer enfermo que pense que lá vai para a conversa!
Para tudo, no IPO, serve a expressão: "É atar e pôr ao fumeiro."
Aprendi a defender-me das lágrimas do regresso indo preenchendo, com questões, um caderninho que abro sempre que me apresento na vistoria dos três minutos. E a vistoria começou a ser alargada! Mas pouco, que eles estão mesmo treinados para nos despacharem... Porque eles são aqueles que precisam de nos salvar!
sexta-feira, 5 de março de 2010
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3 comentários:
Esse caderninho de que falas é o tal que aviva a memória, não é? Pois fazes muito bem em usá-lo. Deve ser, pois então, um caderno bem grosso para que se possa dividir consoante as diferentes especialidades dos médicos que te acompanham. E atrevo-me, até, a sugerir que se estenda também para além da vertente médica.
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Pedro:
Por acaso, ainda nunca me deu para contar os especialistas que fazem parte da "minha equipa". É uma boa ideia. E até, talvez, possa dar um post.
beijos
e até lá (ao post!)
Guida aqui posso dizer que fui uma "felizarda" fui desde o 1º dia acompanhada por uma Enfª que a cada ciclo de quimio me telefonava a perguntar como estava. Nas sessões de quimio houve sempre comunicação com todos, desde Enfermeiros a Doentes mas isso deve ser pela minha forma de ser. Sou muito faladora e gosto de conversar e ajudar quem está ao meu lado.
Na Radio, foi a mesma coisa cheguei a rir e chorar com elas. Passei por uma fase dificil porque estava a fazer um ano de tudo desde a morte da minha Mãe, que tinha descoberto o cancro em mim, quando a minha Mãe teve o AVC, quando a minha Mãe faleceu, etc...mas ainda guardo lembranças de ser muito bem recebida e acarinhada por todos!
Ainda vou ás salas dizer um olá ou dar um beijinho a quem tenho mais intimidade.
As consultas acho que habituei os Drs a gramarem-me ihihihihhihi fico lá dentro o tempo necessário e ainda me perguntam se tenho mais perguntas a fazer.
Como vês comigo tudo bem!
Bjs
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