A vasta equipa de médicos do IPO de Lisboa, que há mais de dois anos me segue, nunca conversou comigo. Cada um deles, em cada uma das vezes em que está comigo, apenas se limita a "ver-me" e a informar-me, em níveis absolutamente mínimos, daquilo que eu devo ter conhecimento, como exames, análises, consultas, operações. Respondem também a algumas questões colocadas por mim, mas evitando sempre que as respostas facilmente gerem outras perguntas, acautelando, assim, a garantia de que daí não surja "conversa".
Dois anos passados, alguns meses depois de declarada a depressão, pago para conversar. Porque posso. Mas nem toda a gente pode!
Só os psicólogos conversam. E em consultório. Nem os psiquiatras desempenham esse papel de forma apaziguadora. Chega sempre o momento em que querem resumir e embalar os nossos problemas, para escolherem o fármaco que lhes parece ir melhor com a cara que apresentámos.
Estou, portanto, satisfeita com a minha psicóloga, não deixando de ter uma pena imensa que ela tenha entrado tão tarde no meu processo, pois acredito que me teria salvo da depressão, caso eu tivesse sido indicada para acompanhamento psicológico desde o início do cancro.
E como os médicos, funcionam os amigos, seres igualmente sem tempo para conversas, especialmente no que concerne ao assunto 'doença'.
Só ao tempo da quimioterapia é que eu tive um aspecto baço e macilento, mas, mesmo nessa altura, toda a alma que me via me achava com óptimo aspecto, incluindo o facto de estar careca, que tão bem me ficava na minha cabeça redondinha. E por aí mesmo ficávamos. Como continuamos a ficar. São muito poucas as pessoas com quem falo abertamente daquilo que me apetece partilhar. E agora até já decidi que não volto a dizer "Está a doer-me.", pois não quero massacrar ninguém com queixumes, nem quero que duvidem de mim, uma vez que com tão bom aspecto (!) só posso estar óptima.
Converso com a "minha S.", todas as semanas, durante hora e meia, e às vezes faço hipnoterapia. E a minha dor vai tomando novos contornos.
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