(Alerto para o facto de este ser um relato do meu caso, podendo haver reacções muito distintas das minhas)
Na semana um, há intolerância a odores e sabores, náuseas e vómitos. É difícil encontrar algo que se consiga comer. Se bem me lembro, eu só me dei bem com morangos (sem açúcar) e cerejas, com peixe grelhado, brócolos, courgete e ovos escalfados. Mas o problema é que é preciso variar a alimentação, se realmente quisermos prevenir problemas para a sessão seguinte...
Não me dei nada bem foi com as lavagens de dentes, até uma amiga me recomendar "Kin", um dentífico cujo único e ligeiro sabor é o do flúor. Por essa altura, é também preciso prevenir a secura de todas as mucosas (narinas, gengivas, lábios, ânus, vagina) e as suas consequências - comichão, tosse, aftas, gengivas sangrentas, lábios rebentados, dor de garganta.
A seguir ao primeiro ciclo, cheguei a ter os lábios todos rebentados e as gengivas bem inflamadas, pois não tive esclarecimento suficiente sobre a utilização de uma solução trazida do IPO, que se mistura com Mycostatin, para se bochechar e engolir, depois da higiene oral. Nos ciclos seguintes, esse problema já foi minorado.
A primeira semana é aquela em que as nossas defesas vão diminuindo de dia para dia, sendo a segunda uma semana em que nos mantemos em baixo. Os distúrbios gastrointestinais revelam-se logo na primeira e mantêm-se, ainda que tendam a ser minorados graças à ingestão de sopas e aos três litros de água por dia. Falo de obstipação muito severa, com formação de verdadeiras pequenas pedras, que se colam umas às outras - uma das consequências que mais dificilmente aguentei, pior ainda que as sensações de enfartamento, má disposição gástrica e azia.
Na semana dois, devemos ser particularmente cuidadosas com o frio, as correntes de ar, as mudanças de temperatura e tudo o que nos possa constipar ou engripar, pois o nosso organismo está realmente fraco em defesas. Andar ou não na rua deve ser decidido em função das condições atmosféricas. É a semana da extrema fadiga, das dores nas pernas e nos braços, da vontade de dormir o mais possível - para não sentir, embora a dor nas zonas operadas atrapalhe o próprio sono. É a semana em que nos devemos obrigar a uma alimentação adequada à manutenção das forças.
Na semana três, apesar de muito daquilo que já foi revelado se manter, é verdade que cada novo dia traz uma sensação de melhoria e o ânimo vai-se multiplicando. Mas, no fim desta semana de sorrisos cada vez mais largos, estamos no dia de mais uma entrada de venenos, sem apelo nem agravo. E dá-se um fenómeno de repetição quase integral das consequências já experimentadas.
E cada ciclo é sempre pior do que o anterior, pelo conhecimento de causa e pelo sofrimento acumulado.
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4 comentários:
Vim aqui “parar”, por te ter visto no blogue da “Alfa”, minha amiga…e por curiosidade resolvi visitar-te…sei do que falas, embora o meu problema tenha sido outro. Fui operado duas vezes a um melanoma. Continuo cá com o “crocodilo”, mas sabes como tenho lidado com “ele”? Digo-lhe que quem o há-de comer sou eu, e não ele a mim…e agarro-me ao desporto com muita força (sempre o fiz) …rio muito, embora por vezes sem vontade…e depois de te ler, embora saiba que estás em sofrimento, sei que vais ter coragem suficiente para levares de vencida essa tua dura batalha…muito poucas pessoas sabem do que padeço, mas resolvi “debitar”aqui o que me vai na alma…e juntos venceremos todos os nosso males, exorcizando-os para bem longe…também comentei o teu outro blogue, e não te vás embora O.K.
Bj*
Olá Guida
Vim cá dar-te uma forcinha. Conheço toda esta situação pelo que estás a passar, por enquanto não em primeira-mão. A minha mãe acabou a radio à mais ou menos um ano. Mas os sintomas, conheço muito bem. O precisar de comer e só o cheiro dar vómitos.
É uma doença horrivel, não são fáceis os tratamentos mas hoje em dia com os conhecimentos nesta área, os médicos estão a realizar milagres.
Logo que acabes os tratamentos, tudo volta ao normal (entre aspas). A vontade de viver e de fazer coisas será mais intensa. Porque, como a minha mãe diz não é a porra de uma barata (assim ela o tratava) que a vai vencer.
Eu estou a reunir matéria sobre este assunto para o meu canto, precisamente para alertar as mulheres mais novas para não se descuidarem. No IPO de Lisboa há cada vez mais mulheres e cada vez mais novas a aparecer com a "barata", mas se apanhado a tempo, pudesse ter que passar pelo que estas a passar agora (esses tratamentos horrorosos) mas a "barata" não nos vence.
Beijinho
Tulipa
P.S. Se vires que algum sintoma é muito dificil de suportar, fala com o teu medico. No caso de minha mãe foi preciso alterarem a composição da quimio. Beijo mais uma vez
Vitor:
Obrigada por teres deixado ficar um pedaço de ti por aqui e pela partilha daquilo que te afecta, mas há-de ser debelado.
Sinto-me lisonjeada por te teres sentido à vontade para dizeres de ti.
Não me irei embora. Aquela "paragem" a que tiveste acesso no 'Canto do Ego' não significa que eu tenha abandonado este grande canal, que me permite ir escoando as impurezas...
Estou por cá e gostei que tivesses aparecido.
º_º
Olá, Tulipa!
Sejas bem aparecida!
Obrigada pela "forcinha", que é sempre bem vinda e chega quase a fazer milagres...
Espero que a tua mãe esteja em franca recuperação. Nunca tinha ouvido chamar 'barata' a este bicho mau, mas fica-lhe bem o nome! É aquele tipo de bicho que podemos esmagar a um cantinho...
Um beijo
P.S. Aparece sempre!
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