Como expressão máxima da união entre dois seres que se amam, o acto sexual envolve um grau de cumplicidade que vai aumentando ou diminuindo, na directa proporção da evolução da relação integral do casal.
O cancro da mama não escolhe estádios de relacionamento entre casais para surgir, o que pode provocar reacções muito distintas em ambos os envolvidos na relação.
O primeiro embate traz apenas à ideia a necessidade de lutar pela sobrevivência (ainda que possamos não consciencializar a hipótese da morte). Nada mais importa, nos primeiros tempos, do que afastar o inimigo que surgiu para atacar em força.
Casos há, contudo, em que não é possível sentir, nem por um bocadinho, que esse inimigo está afastado. Desses casos, o conhecimento que tenho não é fruto de experiência própria, pelo que prefiro não os abordar num espaço em que aquilo que escrevo tem por base as minhas vivências.
Sentir que a nossa vida já não está em risco é mais do que meio caminho andado para acreditarmos que a vida vai continuar como era antes. E isso é força! Mas, na verdade, como era antes a vida não voltará a ser, sendo até várias as condicionantes a essa possibilidade.
Quer física, quer psicologicamente, o nosso ser ficará magoado para sempre, depois de uma experiência de cancro. Mas as mágoas podem ser em menor ou maior número e mais fáceis ou mais difíceis de suportar, assim o mundo que nos rodeia nos seja próximo ou distante, e se cruze connosco ou simplesmente caminhe em paralelo...
Numa relação de partilha de experiências, quer as individuais, quer as comuns, em jeito de aprofundamento, vai-se tornando cada vez mais sólido o inicial terreno movediço, até um ponto em que, se vier a tempestade, cada um, até mesmo se não for possível falar, desempenha na perfeição o seu papel, que não lhe parece outra coisa senão um pormenor intrínseco ao amor que une os dois seres.
Nos casos de mastectomia, há o cancro (e seus respectivos tratamentos) e a mutilação (com várias consequências possíveis) para encarar, lidar, resolver. E tudo é, em simultâneo, físico e psicológico.
Não esquecendo que cada caso é um caso, sei que é comum a quimioterapia provocar secura vaginal, a radioterapia potenciar o cansaço e a hormonoterapia agravar a perda de autoestima, que naturalmente acontece pela falta da mama natural (mesmo que haja reconstrução), mas, desta vez, pelo que se engorda. E a perda da autoestima consegue encaminhar-nos para um processo de depressão, com necessidade de antidepressivos e ansiolíticos que se metem directamente com a nossa líbido, tornando-a preguiçosa.
Temos, portanto, pela frente, um sério, mas muito interessante e enriquecedor trabalho a dois (espero que em muitos casos), no sentido de contrariar todos os factores que pensam que vêm para se intrometer na vida sexual do casal!
E é, sobretudo, um trabalho de criatividade, em que, entre sucessos e insucessos, se vai inovando e, com isso, apreciando a capacidade de invenção e reinvenção do prazer.
Em jeito de brincadeira, apetece-me dizer que um cancro da mama pode possibilitar uma deliciosa reciclagem sexual...
domingo, 14 de março de 2010
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2 comentários:
Margarida, que cabeça arejada e fresca apresentas. Para teu bem, dos que te estão próximos e podem aprender coisas importantes contigo e para as mulheres que passam pelo mesmo, o que ensinas é brilhante. Fico muito feliz por ti.
Nota: não fiques triste comigo (estou em falta com o desafio) mas tenho andado um pouco desaparecida.Tenho por cá muitos dos familiares, pai, irmã, tios, tias, primos e cunhado que vivem no estrangeiro (Alemanha e Inglaterra)e tenho andado de guia turístico - tirei férias- e o tempo não me chega, porque todos querem ver o seu correio. Logo, quando chega a minha vez, já caí de 4 no sofá da sala. A parte mais divertida é estarmos todos à mesa porque almoços e jantares de familia há todos os dias um ou dois e falamos, português, inglês, alemão, italiano e espanhol(chile) é o máximo. Beijocas
Alfa:
Ainda bem que achas que aquilo que aqui faço tem alguma utilidade, pois há muitos dias em que sou assaltada por sérias dúvidas a esse respeito.
Quanto à atenção que andas a dar aos teus familiares e ao gozo que tens tido nisso, fico eu feliz, pois acho que a vida é para ser vivida assim mesmo - em partilha de amizade.
Espero que essas férias continuem a ser "o máximo". Não te preocupes com a nossa história, pois na vida há oportunidades a agarrar...
um beijo grande
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