Dedico e dirijo este blogue a todos aqueles que tiverem passado (ou estiverem a passar) por histórias de cancros, quer como protagonistas, quer no papel de acompanhantes na luta contra a doença, mas espero por cá encontrar qualquer contributo que qualquer um considere válido.
A intenção principal é trocar experiências de forma direta e sincera, sem necessidade de qualquer apoio no escudo da força constante e do pensamento sempre positivo, que tantas vezes não estão presentes, mas parece haver uma imposição social para que assim seja...
Sejam bem-vindos! E divulguem este blogue!


Por aqui, discorre-se sobre:

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riscos marcantes

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NOTE BEM

No dia 11.1.11, este blogue passou a ser escrito à luz do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A Minha Amiga Tem um Cancro na Mama

As reacções dos meus conhecidos, amigos e familiares à notícia do meu cancro na mama foram diversas, mas tiveram quase todas alguns pontos em comum, a distribuir por diversas fases ao longo destes dois anos. E é aquilo que é comum às reacções de pessoas diferentes e com graus de afinidade diversos que pretendo contar.
Na fase inicial, imediatamente posterior ao conhecimento da nova realidade, destacou-se uma meia dúzia de "corajosos" que avançou para telefonemas e visitas pessoais, transportando consigo beijos e desejos de força enviados por várias dúzias que não conseguiam sequer a palavra escrita, quer por email, quer por sms.
Talvez tenha sido, para a maioria, mais chocante do que para mim o facto de eu estar doente. Tanto assim que a 13 de Janeiro recebi um grande ramo de flores vindo de longe, carregadinho de beijos de grandes e pequenos, que, na união, conseguiram a sua força.
Com o tempo a passar, com o conhecimento de que eu gostava que me falassem e com a aproximação do dia da operação (primeiro "tratamento" a que fui submetida), comecei a receber escritos por ambas as vias que atrás referi. Mas muitos deles chegavam com pezinhos de lã, indagando se não estariam a incomodar e pouco se alongavam. E eu tinha pena. Por isso, respondi a todos e coloquei-os à vontade para me ligarem, visitarem ou enviarem sms sempre que quisessem. E ia pensando como seria se fosse eu alguém do lado deles. Como reagiria eu?
A resposta não me surgiu a não ser meses depois, quando me disseram que uma amiga da adolescência estava com um problema semelhante. Resolvi logo ligar-lhe, mas o telefonema dela para mim chegou primeiro. E falámos calma e positivamente sobre as nossas apreensões, acreditando na garra que nos havia de ajudar no processo de cura.
Imediatamente após a operação, houve muitas comunicações, feitas, pelos mais íntimos, para o telemóvel do meu marido ou recebidas por ele, no meu. E todas as manifestações de carinho me sabiam bem, embora preferisse não falar, pois ficava cansada e subia-me a tensão arterial. O "secretário" esteve, contudo, à altura de interceptar toda a "correspondência" chegada por vias diversas, a qual ia entregando com calma à minha pessoa. Até que comecei a responder às sms e a atender telefonemas.
O pós-operatório (que já vivi três vezes...) é um período que deve ser pensado, planeado com cuidado, para que haja ambiente suficientemente propício ao descanso fundamental à recuperação. Operada na quarta-feira, no domingo à tarde estava em casa dos meus sogros (a poucos quilómetros do hospital e a 300 dos meus quatro filhos e dos meus pais, que estavam em minha casa destacados, a 100 quilómetros da terra deles, para cuidarem dos netos enquanto o meu marido cuidava de mim. E nesse dia a casa encheu-se de tal maneira de visitas (algo que eu tinha pedido para não acontecer no hospital) e eu fiz tanto esforço para contar e para me mostrar animada que, depois de todos sairem, o aparelho de medir a tensão registou 18/11. E eu concluí que ainda não estava pronta para festas...
Fui ficando por lá, pois tinha de ir ao hospital de quatro em quatro dias para encher o expansor, e comecei a ver emails e a responder-lhes, algo que fazia muito espaçadamente ao longo do dia. Senti, por essa altura, que o mundo ao meu redor estava comigo, preocupado e desejoso de que eu recuperasse depressa, e muita da minha dor física (a psicológica só veio muito mais tarde) era mitigada por palavras de alento, pronunciadas ou escritas.
Três semanas (e mais uma operação) depois, de regresso aos meus miúdos, com quem fiz questão de falar diariamente, fui recebida com toda a espécie de perguntas, especialmente as que se referem às características do Bloco Operatório, onde me deram as boas vindas com a expressão "Bem vinda ao Polo Norte!", perfeitamente apropriada para descontrair, num ambiente completamente gelado. Adorei contar tudo e eles adoraram ouvir. Não omiti nada que os pudesse impressionar, até porque, desde a notícia da doença, os seus 8 (em duplicado), 10 e 12 anos nunca foram impedimento para que soubessem de tudo o que se passava.
E aqui se iniciou um novo período de um processo que ainda não terminou, à data de hoje, e que continuarei a explanar amanhã.

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